Uma Lágrima de Mulher
SEGUNDA PARTE
CAPÍTULO XII
Às quatro horas da manhã, já no oriente passeava a aurora a sua alegria cor-de-rosa, contrastando com a terra toda tranqüilidade e sonolência; somente da choupana de Sombra da Noite uma claridade avermelhada empalidecia ao clarão matutino do dia.
Parece que a natureza ao acordar vai apagando com as brisas da aurora as luzes mesquinhas das alcovas do homem. Quão ridícula e miserável é a luz mortiça de uma vela em presença da luz vivificante do sol - dir-se-ia o espírito de um homem comparado ao espírito de Deus.
Também devem ser assim mesquinhas e pálidas as nossas almas em presença do incriado no tremendo dia do Juízo Final!
A portinha da choupana rangeu, depois da detonação que fez a tranca pesada de madeira ao cair na terra do chão e deu passagem a Miguel seguido de Sombra da Noite. O moço vinha transformado pela insônia e fadiga; o outro ajudou-o a montar o animal, que tosava fora os detritos da ladeira, dizendo-lhe secamente:
- Até amanhã...
- Então posso contar com o seu auxílio? volveu Miguel firmado nos estribos e segurando com uma das mãos o chapéu, que o vento se esforçava, por arrancar.
- Para a vida e para a morte! respondeu o pescador, recebendo dinheiro da mão que Miguel lhe estendia.
O cavalo disparou e sumiu-se com o cavaleiro na estrada. Pouco a pouco, foi-se perdendo o som metálico da ferradura pisando o chão. Fechou-se de novo a porta da choupana sobre Sombra da Noite, e desapareceu a luzinha vermelha.
O sol acabava e levantar-se no horizonte trêmulo.
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