Marginália
LIVROS
Recebo-os às pencas, daqui e de acolá.
O meu desejo era dar notícia deles, quer fosse nesta ou naquela revista; mas também o meu intuito era noticiá-los honestamente, isto é, depois de tê-los lido e refletido sobre o que eles dizem. Infelizmente não posso fazer isso com a presteza que a ansiedade dos autores pede. A minha vida, se não é afanosa, é tumultuária e irregular, e a vou levando assim como Deus quer. Há mais de um mês - vejam só! - recebi o romance de meu amigo Ranulfo Prata - Dentro da Vida - e ainda não escrevi sobre ele uma linha.
Tenho também, há bastante tempo, de outro amigo, Jackson de Figueiredo, uma obra sua recente - Pascal e a Inquietação moderna - da qual ainda não pude falar como ela merece.
Entretanto os livros chovem sobre mim - coisa que muito me honra, mas com a qual me vejo atrapalhado, devido à falta de método na minha vida.
Há dias veio ter-me às mãos um volumezito editado em Pernambuco, no Recife. Era assinado por uma senhora: D. Débora do Rego Monteiro, e tinha por título - Chico Ângelo. Trata-se de contos e curioso pus-me a lê-lo com açodamento. Encantou-me pela sua simplicidade, pela despretensão no escrever da autora - coisa rara em mulher - e pela maravilhosa meiguice em tratar os personagens e a paisagem; mas fi-lo de bonde, de forma que não é uma leitura meditada, como a obra de D. Débora requeria; mas foi uma leitura cheia de simpatia e boa vontade.
A ilustre autora há de desculpar-me isso, mas quando se lembrar que a vida tem terríveis imperativos...
Careta, 12-8-1922.