Papéis Avulsos
ADVERTÊNCIA
Este título de Papéis avulsos parece negar ao livro uma certa unidade; faz crer que o autor coligiu vários escritos de ordem
diversa para o fim de os não perder. A verdade é essa, sem ser bem essa. Avulsos são eles, mas não vieram para aqui como
passageiros, que acertam de entrar na mesma hospedaria. São pessoas de uma só família, que a obrigação do pai fez sentar à
mesma mesa.
Quanto ao gênero deles, não sei que diga que não seja inútil. O livro está nas mãos do leitor. Direi somente, que se há aqui
páginas que parecem meros contos, e outras que o não são, defendo-me das segundas com dizer que os leitores das outras
podem achar nelas algum interesse, e das primeiras defendo-me com São João e Diderot. O evangelista, descrevendo a famosa besta apocalíptica, acrescentava (XVII, 9): "E aqui há sentido, que tem sabedoria." Menos a sabedoria, cubro-me com aquela palavra. Quanto a Diderot, ninguém ignora que ele, não só escrevia contos, e alguns deliciosos, mas até aconselhava a um amigo que os escrevesse também. E eis a razão do enciclopedista: é que quando se faz um conto, o espírito fica alegre, o tempo escoa-se, e o conto da vida acaba, sem a gente dar por isso.
Deste modo, venha donde vier o reproche, espero que daí mesmo virá a absolvição.
Outubro de 1882
MACHADO DE ASSIS.
O Alienista
Teoria do Medalhão
A Chinela Turca
Na Arca
D. Benedita
O Segredo do Bonzo
O Anel de Polícrates
O Empréstimo
A Sereníssima República
O Espelho
Uma Visita de Alcibíades
Verba Testamentária
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